Serviço no
Adolescentro atende 18 jovens em processo de transição. Parentes que têm
dificuldade para lidar com questões de sexualidade dos filhos também podem
receber ajuda
VINÍCIUS BRANDÃO, DA
AGÊNCIA BRASÍLIA (16/10/17)
“Eu sempre soube que tinha algo errado. Há
três anos, comecei a pesquisar e compreendi quando vi que outras pessoas passam
pela mesma situação. Então eu falei para a minha mãe que, na verdade, sou um
menino”, compartilhou o jovem de 15 anos — que nasceu com características biológicas
femininas — em reunião do Grupo da Diversidade, do Adolescentro.
Mesmo com o reconhecimento, ele só aceitou que precisava passar
pelo processo de transição quando começou a frequentar o grupo. “Achei que ia
melhorar por entender, mas só piorava por não fazer nada. Era como se eu usasse
uma fantasia ridícula todos os dias.”
Voltado para atender jovens de 12 a 18
anos que têm questões relacionadas à sexualidade LGBT, o grupo recebe
atualmente 18 adolescentes em processo de transição.
“Temos uma equipe aqui para dar atenção a
esses meninos e meninas. Só três serviços no Brasil fazem atendimento para
jovens nesse quadro. Além de nós, um fica em São Paulo, e o outro, em Porto
Alegre”, explica o médico sanitarista da Secretaria de Saúde lotado no
Adolescentro, Luiz Fernando Marques, fundador do grupo.
Segundo ele, em um atendimento biopsicossocial,
profissionais de várias áreas fazem consultas separadas com os pacientes para,
depois, discutir os melhores encaminhamentos.
O Grupo
da Diversidade também funciona como apoio para os médicos do Adolescentro que
encontram jovens com dificuldades relacionadas à sexualidade. Dessa forma,
entendem melhor os problemas físicos e de saúde dos pacientes e podem dar um
tratamento mais específico para cada um.
Criado em dezembro de 2015, o Grupo da
Diversidade foi importante para outra participante, de 15 anos. “Passei por
consultas com psicólogos, e ninguém conseguia me ajudar, até descobrir o
grupo.”
Ela foi acompanhar uma amiga, de 17 anos,
que descobriu o Grupo da Diversidade ao se abrir com uma enfermeira do
Adolescentro sobre as dúvidas que tinha. “Aqui a gente aprende muito sobre a
gente e sobre o mundo LGBT. Soubemos sobre o Ambulatório
Trans por meio do grupo”, conta.
As duas amigas tiveram dificuldade para se
compreenderem quando descobriram que não sentiam atração por homens, apenas por
mulheres.
O Grupo da Diversidade reúne-se
quinzenalmente às quartas-feiras, das 14 às 16 horas, no Centro de Saúde da 605
Sul, Lotes 33/34. Para participar, basta ir ao local, também chamado de
Adolescentro, em busca de informações.
Grupo
da Diversidade foi reconhecido em prêmio da Secretaria da Saúde
Em maio deste ano, o Grupo da Diversidade
ficou em segundo lugar no 1º Concurso de Boas Práticas em Atenção Psicossocial,
promovido pela Secretaria de Saúde, na categoria de Infância e Juventude.
“Concorremos com outras dezenas de
práticas em Brasília e fomos reconhecidos. O que tratamos é a saúde desses
jovens e de seus responsáveis”, resume o fundador do Grupo da Diversidade.
Marques
diz que a descoberta da sexualidade dos adolescentes também pode ser um choque
para os pais. Por isso, o Adolescentro, assim como o Grupo da Diversidade,
também pode receber e atender os parentes.
A jovem de 17 anos justifica a importância
dessa prática. “Minha mãe achou que era brincadeira quando assumi. Com o grupo,
ela aprende cada vez mais a respeitar, mesmo que ainda não aceite.”
O rapaz de 15 anos concorda com a colega
de grupo. “Ninguém é obrigado a aceitar nada, mas nossos pais precisam
respeitar. Nessa sociedade, até a gente tem preconceito. Nossos pais estão tão
perdidos quanto nós.”
Adolescentro
tem foco em saúde mental, dificuldade de aprendizagem e violência sexual
O Centro de Referência, Pesquisa,
Capacitação e Atenção ao Adolescente em Família, outro nome para o
Adolescentro, tem como objetivo atender jovens com foco em saúde mental,
dificuldade de aprendizagem e violência sexual.
A unidade completou 19 anos de
funcionamento em 2017, quando o número de atendimentos aumentou. “De uma média
de 3,5 mil adolescentes por mês, fomos para mais de 5 mil em janeiro”, calcula
a gerente do Adolescentro e médica pediatra da Secretaria de Saúde, Ana Paula
Tayama.
Para melhorar o serviço, quando as
celebrações do aniversário do centro ocorreram em setembro, foram promovidas
palestras e apresentações de dissertações.
O Adolescentro atende nas áreas de:
- Assistência social
- Farmácia
- Fonoaudiologia
- Ginecologia
- Neuropediatria
- Nutrição
- Odontologia
- Pediatria
- Psicologia
- Psiquiatria
- Terapia
ocupacional